Quando o Wi-Fi da vizinha se chama “Rouba Não Vagabundo”
Outro dia fui conectar meu celular no Wi-Fi e me deparei com uma lista de nomes tão criativos que fiquei uns bons minutos só rindo e lendo cada um. Tinha de tudo. “Senh@naoé123”, “JesusNet Salva”, “Wi-Fé em Deus”, “É o vizinho de novo né” e um clássico da indireta: “Rouba Não Vagabundo”. Naquele momento, percebi que o brasileiro não deixa escapar nenhuma oportunidade de expressar criatividade, nem mesmo na hora de nomear uma rede de internet.
Eu já vi nomes de Wi-Fi que são piada pronta. Outros parecem enigma, tipo “conectaquemtemsenha”. Tem os que são diretos, como “Paga o Aluguel Primeiro” e “Não é Grátis Nem Aqui Nem na China”. E tem os filosóficos também, tipo “O sinal está em você” e “Conexão interior”. É um festival de bom humor, indireta e até protesto silencioso que mora ali, entre uma rede e outra, disponível pra qualquer celular que estiver por perto.
O mais incrível é que isso não acontece só em prédio grande ou bairro movimentado. Já vi nome engraçado de Wi-Fi até em cidade pequena, no interior, no sítio de amigo. É como se o roteador tivesse virado uma nova forma de mandar recado, dar risada ou mostrar personalidade. E a escolha do nome da rede virou quase um ritual. Como se dissesse assim: aqui também tem estilo, mesmo na senha do Wi-Fi.
Eu mesmo demorei horas pra decidir o nome da minha rede. Queria algo que fosse engraçado, mas que não me comprometesse. Algo criativo, mas que ficasse fácil de achar. E aí me vi naquele dilema típico do brasileiro moderno: como transformar até um detalhe doméstico num momento de gênio cômico. Porque a gente é assim. Onde dá pra inventar, a gente inventa. E com o Wi-Fi não seria diferente.
O Wi-Fi como mural de avisos, indiretas e boas risadas
Com o tempo, percebi que o nome do Wi-Fi deixou de ser só uma identificação técnica. Ele virou uma extensão da personalidade de quem mora ali. É como se o roteador se tornasse um canal de comunicação com o mundo exterior, especialmente com os vizinhos. E dependendo do bairro ou do condomínio, essa comunicação vira uma verdadeira novela em rede invisível.
Tem gente que usa o nome do Wi-Fi pra mandar indireta mesmo. “Não Rouba Meu Sinal”, “Esse Wi-Fi É Só Pra Mim” ou o direto ao ponto “Paga a Sua Internet” são comuns em qualquer lista de redes. É como se o dono dissesse “tô de olho”, mas sem ter que falar nada em voz alta. E o mais curioso é que isso funciona. Às vezes a pessoa nem protege com senha, mas o nome da rede já é intimidador o suficiente.
Tem os que fazem humor com referência pop. Já vi redes chamadas “A Casa de Papel”, “Vingadores da Net”, “Wi-Finder Nemo” e até uma que me fez rir alto: “Luke, eu sou seu Wi-Fi”. São nomes que mostram o quanto a gente mistura cultura, humor e tecnologia de forma espontânea. E o mais legal é que ninguém precisa ver o dono do roteador pra saber que ele tem senso de humor.
Também tem aqueles que usam a rede como recado interno, tipo “Sogra Não Conecta”, “Amor, Tira a Roupa do Varal” ou “Não Esquece o Arroz no Fogo”. Eu juro que não tô inventando. Já me deparei com esses nomes e fiquei imaginando o tipo de história que rola dentro dessas casas. Porque, vamos combinar, quem nomeia uma rede assim provavelmente tem muita história pra contar.
E tem o lado generoso também. Algumas redes são abertas e têm nomes como “Wi-Fi Livre Como o Amor” ou “Conecte-se, Vizinhança”. Aí entra um outro lado do brasileiro, aquele que gosta de compartilhar, ajudar e acolher. Mesmo quando é só uma conexão, o gesto tem valor. Porque quem já ficou na rua procurando sinal de internet sabe que um Wi-Fi aberto pode salvar o dia.
No fundo, esses nomes dizem mais do que parecem. Eles contam histórias, mostram atitudes, revelam sentimentos e até tensões. São micro-mensagens disfarçadas de rede que, quando somadas, pintam um retrato fiel do nosso jeito de viver e se expressar.
O brasileiro e a tecnologia: um relacionamento informal, mas genial
Sempre achei curioso como o brasileiro tem essa capacidade natural de tornar tudo mais leve. Até a tecnologia, que em outros lugares é tratada com uma formalidade quase robótica, aqui ganha apelido, piada e meme. É como se a gente precisasse dar um toque de humanidade em tudo, inclusive na conexão Wi-Fi. A internet pode vir da fibra óptica, mas o nome da rede vem do coração.
É só pensar como a gente lida com as coisas do dia a dia. A impressora é chamada de “a praga”. O micro-ondas vira “o bicho que esquenta tudo”. O roteador é “aquele treco da net”. A gente não se distancia da tecnologia, a gente abraça ela do nosso jeito. E nisso, entra a personalização, a ginga, o improviso e claro, os nomes dos Wi-Fis entram direto nessa conta.
É por isso que as redes daqui se chamam “Aqui Não, Mané”, “Conexão Lenta, Mas Sincera”, “Wi-Fi da Depressão”, “Só se For Amor” ou “Abençoado por Deus e Sem Internet”. São nomes que não têm nada de técnicos, mas têm tudo de brasileiros. São mensagens que fazem rir, mas que também nos lembram o quanto a gente tem essa relação única com tudo que nos cerca.
E quando penso nisso, vejo que talvez essa leveza seja nossa maior forma de resistência. Porque a vida nem sempre é fácil. A conta da internet pode atrasar, o roteador pode dar problema, o sinal pode cair bem na hora da videochamada importante. Mas a gente não perde a piada. E quando consegue nomear o próprio Wi-Fi com humor, é quase como se dissesse: tô no controle, pelo menos do nome disso aqui.
Essa informalidade é quase um código cultural. Em vez de “Net-2.4Ghz”, a gente coloca “Antenado e Gostoso”. Em vez de “FiberUser_1298”, a rede se chama “ConectaMasNãoAbusa”. Isso mostra que, mesmo com as inovações chegando cada vez mais rápido, o brasileiro não deixa de colocar a própria identidade em tudo que toca.
Talvez por isso eu goste tanto de observar esses nomes. Porque eles não são só engraçados, eles são pequenos retratos de como a gente se relaciona com o mundo digital. De como a tecnologia aqui é adaptada, reinventada e, acima de tudo, humanizada.
No fim, é só mais uma forma de dizer: a casa é nossa
Às vezes me pego pensando que, se um dia alguém for estudar os hábitos do brasileiro no futuro, vai ter que olhar pra essas redes de Wi-Fi. Elas contam muito mais do que parecem. São o retrato de um povo que se comunica com humor, que transforma o cotidiano em espetáculo e que precisa, o tempo todo, reafirmar sua identidade até na conexão da internet.
Quando a gente coloca o nome “Sinal dos Céus” ou “Chama no Wi-Fé”, não é só por diversão. É uma maneira de dizer que ali tem vida. Que ali tem gente criativa, que vive com o básico, mas vive com alma. É como colocar uma plaquinha na porta da casa dizendo “seja bem-vindo, mas tire o sapato e o mau humor”.
Esses nomes criativos também funcionam como pequenos marcos da nossa vivência. Quem nunca entrou num prédio novo e foi direto procurar as redes do vizinho só pra dar risada? É quase um hábito secreto. Uma espionagem inocente que, em vez de causar tensão, provoca riso. E isso nos aproxima. Porque no fundo, rir das redes do outro é rir da nossa própria forma de viver.
Eu já vi rede com nome de música, de bordão, de gíria. Já vi rede com nome de protesto, de indireta, de ironia. E todas elas me disseram algo sobre o dono. Me contaram, sem dizer nada diretamente, que ali tem alguém com opinião, com senso de humor, com vontade de se fazer notar.
No fim das contas, o nome do Wi-Fi é mais um dos nossos jeitos de dizer “eu existo” num mundo onde tanta coisa parece padronizada e impessoal. É uma forma de resistir ao tédio, à mesmice, à frieza dos números e dos códigos. Porque, pra nós, até a internet precisa ter cara de gente. Precisa ter sotaque. Precisa ter piada.
E se for pra viver conectado, que seja assim: com criatividade, com personalidade e com aquele toque de humor que só o brasileiro é capaz de colocar até nos sinais invisíveis que cruzam o ar. Porque aqui, meu amigo, até o Wi-Fi dá risada.