Quando a IA começou a “programar por mim” e eu fiquei dividido entre alívio e medo
A primeira vez que usei uma inteligência artificial pra escrever código por mim, eu fiquei impressionado. Em segundos, ela tinha feito uma função que eu levaria pelo menos uns 20 minutos pra montar. Código limpo, documentado, com direito a comentário explicando cada linha. A sensação foi meio mágica. Um misto de “uau” com “ferrou”.
Porque, por um lado, aquilo me poupava um tempo absurdo. Eu podia focar mais na lógica, na arquitetura, na parte criativa. Mas por outro, me veio aquela pergunta que já não desgruda mais da minha cabeça: e se um dia essa IA fizer tudo? E eu, fico fazendo o quê?
Essa questão tá martelando não só em mim, mas em muita gente que trabalha com desenvolvimento. A programação, que por anos foi considerada “a profissão do futuro”, agora parece estar na linha de tiro da própria tecnologia que ajudou a criar. A IA tá aprendendo cada vez mais rápido, cada vez melhor, e sinceramente, em alguns momentos parece que ela nem precisa mais da gente.
Mas também tem outro lado dessa história. Porque por mais que a inteligência artificial escreva código, ela não entende o contexto como a gente. Ela não sente a dor do usuário. Ela não conhece a gambiarra necessária pra fazer um sistema antigo funcionar com um plugin de 2008. Ela não passou madrugada ajustando layout porque o cliente queria “só um detalhezinho diferente”. E aí eu entendi que talvez o nosso papel não esteja acabando, mas mudando.
A inteligência artificial e a programação não são inimigas. Elas estão se fundindo. O dev que antes só sabia escrever função vai precisar aprender a orquestrar IA, a revisar, a guiar. E isso não é pouco. É um novo tipo de habilidade. Mais estratégica, mais criativa, mais humana.
O programador não vai sumir. Mas o programador que não se adapta, talvez sim.
Depois que a ficha caiu de que a IA não vai embora, eu comecei a prestar atenção nos detalhes. Vi que ela ajuda, mas também erra. Ela escreve código bom, mas depende de alguém que saiba guiar. Ela sugere solução, mas não entende o contexto de negócio, a dor do cliente, o legado cheio de gambiarra que só quem vive backend raiz conhece.
E foi aí que eu percebi: o que a inteligência artificial tá fazendo é forçando a gente a mudar de papel. De executor pra estrategista. De operário digital pra arquiteto de sistemas. De alguém que escreve cada linha pra alguém que sabe o que cada linha precisa causar. É outra mentalidade. E sim, exige mais. Mas também libera mais espaço pra criatividade.
O futuro da programação vai ter cada vez menos digitação de código do zero, e cada vez mais curadoria, revisão e direção. O bom programador vai ser aquele que souber conversar com a IA. Que souber fazer boas perguntas. Que souber olhar o resultado e dizer “isso aqui tá certo, mas não resolve o problema”. A inteligência artificial na programação não substitui pensamento crítico. Ela só acelera os processos. E aí, se você não souber o que está fazendo, ela acelera o erro também.
E tem mais: com a IA ajudando nas partes mecânicas, sobra espaço pra criar soluções mais ousadas. Eu mesmo já testei coisas que antes não tinha tempo, porque ficava preso no básico. A IA me libertou da repetição. Me deu chance de pensar produto, de pensar experiência, de pensar impacto. Isso, nenhum robô vai fazer no nosso lugar tão cedo.
Só que pra isso, a gente precisa largar o orgulho. Tem muito programador que se recusa a usar ferramenta de IA achando que é “roubar”. Eu vejo como evolução. Tipo quando pararam de usar régua e passaram a usar software de design. Mudou a ferramenta, mas não o pensamento por trás. Quem entende o fundamento, segue relevante. Quem só decora sintaxe, já começou a ficar pra trás.
A IA chegou. A pergunta agora não é mais “vai substituir a gente?”, mas “o que a gente vai fazer com esse novo poder?”. E é aí que as oportunidades começam.
A programação não morreu. Ela só tá mudando de roupa
Depois de tudo que observei, percebi que a programação não vai acabar, ela vai se espalhar. Vai sair do código puro e entrar em áreas que antes nem levavam programação a sério. E é aí que o jogo vira. Porque enquanto alguns ainda estão tentando proteger a função tradicional, outros já estão explorando as novas portas que a IA abriu.
Hoje tem vaga pra prompt engineer, que basicamente é um dev que sabe conversar com a IA do jeito certo. Tem gente trabalhando como integrador de sistemas baseados em IA. Tem dev que virou curador de código, revisor, analista de modelos generativos. Tudo isso é programação? É. Só que num formato que exige menos digitação e mais discernimento. E quem entender isso rápido, sai na frente.
Outro ponto: a IA não sabe lidar bem com contexto humano. E contexto é tudo. O bom programador do futuro vai ser aquele que entende de produto, que sabe ler o comportamento do usuário, que sente onde o sistema precisa mudar. Alguém que consegue guiar a tecnologia como uma bússola aponta pra onde o negócio precisa ir.
É como se a IA virasse um colega novo no time. Um estagiário genial, rápido, mas sem maturidade. Você precisa supervisionar, revisar, contextualizar. Precisa pensar o que pedir, como pedir, e principalmente, por quê pedir aquilo. Isso exige visão. E visão é coisa que não dá pra automatizar.
Vejo também muita oportunidade na área educacional. Gente que sabe programar e sabe ensinar vai ter papel essencial nos próximos anos. Porque o mundo inteiro vai precisar aprender a dialogar com IA, e nem todo mundo vai conseguir sozinho. O dev que vira ponte entre humanos e máquinas vai ser cada vez mais valorizado. E isso me anima.
A real é que quem só copia e cola código, talvez sim tenha prazo de validade. Mas quem entende lógica, estrutura, contexto e propósito... esse vai ser mais necessário do que nunca. Porque a IA não resolve problema, ela executa instrução. Resolver problema continua sendo com a gente. Pelo menos por enquanto.
No fim, ainda vai ser sobre gente criando pra gente
Depois de tudo que li, testei e vivi, cheguei numa conclusão simples: a inteligência artificial não vai acabar com a programação. Ela vai acabar com o programador que se recusa a evoluir. E olha, isso não é uma ameaça. É um convite. A gente sempre soube que tecnologia muda. O que talvez a gente não esperasse era que mudasse tão rápido e tão fundo.
Mas ainda assim, sigo animado. Porque no meio de tanto algoritmo, ainda tem algo que a IA não entende: a dor de quem precisa da solução. E essa empatia, esse senso de urgência real, é o que move a programação de verdade. É o que me fez entrar nessa área. Resolver problemas. Criar atalhos. Melhorar a vida das pessoas com linhas de código.
O que muda agora é que a gente vai escrever menos linha e pensar mais nas conexões. A IA cuida da velocidade. A gente cuida da direção. E nesse equilíbrio, nasce uma nova forma de trabalhar. Menos técnica no sentido tradicional, mas muito mais estratégica, criativa e adaptável.
A verdade é que a profissão de dev tá virando outra coisa. E isso não precisa ser ruim. Porque o mundo continua precisando de gente que entenda de lógica, de processo, de boas práticas. Gente que saiba dizer “isso aqui não funciona na vida real”. E isso, nenhuma IA vai substituir tão cedo.
Então não, a inteligência artificial não vai matar a programação. Mas ela tá forçando a gente a se reinventar. E talvez esse seja o melhor bug da nossa história: perceber que, mesmo com toda essa automação, ainda é o humano que dá sentido pra máquina.
E se tem uma coisa que a gente sabe fazer bem, é aprender. Aprender e adaptar. Sempre foi assim. Sempre vai ser.